[Artigo] Homeschooling: A educação entre dois mundos

 



O ensino domiciliar começou a valer em fevereiro de 2021, mas, muitas perguntas ainda se fazem sobre essa prática e se ela realmente pode trazer ou não uma educação mais profunda



Homeschooling ou simplesmente educação familiar ainda é um tabu para muitas pessoas; porém ganhou mais espaço de discussão no Brasil no ano passado, devido a sua liberação no Distrito Federal no dia 16 de dezembro de 2020 e sendo que a norma começou a valer em fevereiro de 2021. 

Homeschooling é um método de educação onde a criança é ensinada dentro de sua própria casa, os pais podem ser seus tutores ou um professor particular. Essa prática, por mais que pareça nova para grande parte das pessoas, é muito antiga e existe por séculos sendo fundamentada em alguns países; porém em outros pode ser caracterizada até como crime, que é o caso da Alemanha e da Suécia. 


Nesse modelo, os praticantes expõem que esse tipo de educação vai além do ensino escolar, já que o aluno através de estudos domiciliares se desenvolve a partir de metodologias e práticas de estudo próprias. O que para muitas famílias é agradável, pois além de evitar transtornos como o bullying, os pais ou tutores modelam a educação intelectual de seus filhos. 


Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) cerca de 7.500 famílias praticam esse tipo de ensino e existem em torno de 15.000 estudantes de 4 a 17 anos recebendo educação domiciliar nas 27 unidades da Federação, o que apresenta uma taxa de crescimento de 55% ao ano.


Houve também um aumento significativo de perfis em redes sociais (principalmente em questão da pandemia), onde pais e tutores apresentam sua rotina como educadores domiciliares e auxiliam outras pessoas que querem saber mais sobre o movimento e possivelmente praticá-lo. As famílias que optam por esse modelo relatam sua insatisfação com o ensino regular brasileiro, que não expande e aprimora o nível intelectual das crianças e jovens, o que pode gerar um ensino defasado e muitas vezes raso. Elas acreditam que ao praticar esse método de estudo, trarão aos seus filhos uma visão mais aprofundada do mundo, e poderão entender de perto todas as dificuldades e deslumbres que aquela criança apresenta ao começar a compreender a sociedade.


Por outro lado, existe uma série de problemáticas que são discutidas em torno desse tipo de educação.


O que ninguém vê fora da escola



Segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, foram registradas 26.416 denúncias pelo canal ‘Disque 100’, entre março e junho de 2020, envolvendo violência contra crianças e adolescentes, o que representou uma queda de 12% em comparação com o mesmo período do ano de 2019. Isso se dá pelo afastamento das crianças do ambiente escolar, dificultando a comunicação e o relato de possíveis abusos aos docentes e toda estrutura educacional. Segundo o advogado, especialista em direitos da infância e juventude, Ariel Castro, numa entrevista para o G1 o afastamento obrigatório das crianças da escola, por conta da pandemia pode ter gerado uma diminuição das denúncias. 



 “A subnotificação das denúncias acaba sendo um efeito colateral do isolamento social e da suspensão de aulas para conter as contaminações por Covid-19. A maioria dos casos são descobertos por meio das escolas, mas os educadores e cuidadores de creche costumam se preservar e fazer denúncia anonimamente no 'Disque 100' ou nos Conselhos Tutelares. As denúncias são em sua maioria de negligência, além dos casos de violência física, psicológica e sexual”, diz.


O que gera uma preocupação em torno do ensino domiciliar, com a falta de comunicação diária na escola. Outro ponto que é discutido, é a falta de conhecimento de mundo, que para alguns não será passado de forma democrática como se é transmitido dentro das escolas. 


Entretanto, o governo introduz que para fazer parte desse método de ensino os pais ou tutores deverão comprovar a capacidade técnica para a transmissão de conhecimento de acordo com a Secretária de Educação. Além, de ter um aval de um assistente social, um pedagogo e um psicólogo, e serão acompanhados pelo conselho tutelar. Sendo proibidos a esse tipo de educação, os pais ou responsáveis legais que tenham algum antecedente criminal. 


O que reforça o que o livro 'Educação clássica e educação domiciliar' diz sobre a questão da necessidade de conhecimento prévio dos pais para que assim eles estejam capacitados para poder ensinar de forma ampla e democrática:


"Os pais que não leem, não estão preparados para fornecer a educação clássica [...] aos seus filhos."


Para você, que tipo de educação deveria ser melhor introduzida no Brasil? 


Publicado em 26/02/2021 no site Lab Dicas de Jornalismo

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